terça-feira, 1 de outubro de 2013

As crónicas de um Nanas (Capítulo 4)

Capítulo 4

O Nanas sentia-se colado aos lençóis. Não conseguia mover nem uma linha. O focinho do Duks cheirava-o e cheirava! Noutra situação, os bigodes fariam-lhe cócegas, mas não agora!
E sem mais demora, após uma longa e cuidadosa inspecção, o Duks pegou no Nanas com a boca e levou-o para o seu ninho, que é o mesmo que dizer camisola velha de lã da dona enrolada numa cesta de vime! Quase teríamos motivos para terminar esta crónica com as seguintes palavras: "e assim foi a curta história do Nanas"!
Entretanto no infantário, o João olhava para todas as outras crianças sem querer sair do colo da mamã! Sentia-se demasiado exposto para ir brincar com elas ou explorar os cantos da sala dos brinquedos! A sala era muito grande cheia de brinquedos e jogos. Tinha grandes janelas viradas para o parque exterior e havia desenhos por toda a parte. A parede oposta também era em vidro. Desta forma era possível ver-se todas as crianças das diferentes salas, nas suas batalhas e conquistas diárias pelos brinquedos! Não que não houvesse brinquedos que sobrasse para todos, mas como se sabe, há sempre a ideia de que o brinquedo do outro é sempre muito mais bonito, mais colorido e maior do que o nosso (uma reminiscência infantil que alguns adultos carregam por toda a vida).
Havia outras crianças ao colo das mamãs. Tal como o João, ainda não se sentiam preparados. O mundo parecia-lhes demasiado grande, demasiado cheio de gente não eram os papás nem os manos. Apesar da imensa vontade de brincar, não conseguiam mover-se!
Quase todos os meninos e meninas traziam o seu Nanas. A mamã do João olhava-os desconsolada. Todos tinham o seu, excepto o João. Sentia-se culpada! Não que tivesse culpa, mas não conseguia deixar de se sentir mal. Queria tanto que o João já tivesse o seu. Não o que estava em casa! ESSE não era definitivamente o seu Nanas. Mas ao olhar os meninos que tinham deixado o colo das suas mamãs não pôde deixar de ver que eram aqueles que traziam os seus Nanas consigo.
O coração pesava-lhe. O João olhava com os seus olhinhos grandes para os outros meninos. A vontade de brincar sentia-se no olhar, mas... não era capaz de ir sozinho. A mamã então lembrou-se do momento em que tinha visto o João radiante com o Nanas! Tal lembrança deixou-lhe o coração pequenino de tão apertado que estava."Se calhar...eu devia tê-lo deixado ficar com o Nanas. É verdade que eu escolhi um melhor, mas o João é quem vai ficar com ele e é ele quem tem de gostar. E ele gostou tanto dele! Devo dar-lhe outra chance?", pensava a mamã.
Durante aquela manhã, a mamã pensou muito seriamente acerca do que fazer e resolveu ficar com o Nanas se o João demonstrasse o mesmo interesse que no dia anterior. Fazer a devolução e pedir novamente o seu verdadeiro Nanas demoraria tempo, e tempo era algo que a mamã não queria desperdiçar no que dizia respeito ao bem-estar do João.  E se veio este em vez do que ela escolhera... iria dar-lhe uma oportunidade.

Entretanto, o verdadeiro Nanas do João estava cada vez mais perto do seu novo destino! Os outros Nanas da caixa olhavam-no e viam o seu rosto desenhado com linhas tristes. Apesar de estarem ansiosos por chegarem e verem as crianças que os esperavam, e transformarem-se nos pequenos grandes companheiros para o qual tinham sido criados, não ousavam expressá-lo. Sabiam que tudo seria motivo para entristecer ainda mais o Nanas do João. Todos cumpriam o seu destino, menos ele!

Em casa, o Nanas estava  literalmente enterrado debaixo de uma quente bola de pêlos. O Duks tinha feito dele almofada. Roçara-se nele até adormecer!
A manhã passou e na hora do almoço a mamã regressou a casa com  o João.
O João continuava com os olhinhos tristes como se estivesse doente sem qualquer explicação. Nada naquela manhã tinha sido capaz de fazê-lo sorrir. Nem a ele nem à mamã, ainda que ela tentasse. Hoje era para ser o GRANDE DIA! Realmente, que grande dia estava a ser, que nunca mais terminava!
A mamã colocou o João no parque de brincar da sala e foi buscar o Nanas ao quarto.  Podia ser que o Nanas conseguisse o milagre de arrancar um sorriso num dia tão pouco promissor.
"Onde está o Nanas?" pensou a mamã assim que chegou ao quarto. "Não é possível, eu deixei-o em cima da cama hoje de manhã". E procurou, procurou... e nada do Nanas! "Estás a complicar demasiado as coisas para o teu lado", disse a mamã já irritada. E Nanas, nada!
A mamã parou para pensar. "Eu vi-o esta manhã na cama do João, deixei-o lá. Como é possível que tenha desaparecido? Que eu saiba ele não ganhou asas e este nem pernas tem!" E assim que terminou a frase lembrou-se do único capaz de fazer as coisas ganharem pernas lá em casa: o Duks!
"Duks!", chamou a mamã. "Onde estás?" E foi ao ninho do Duks.

Estará o Nanas ainda no ninho do Duks? Ou terá o Duks levado-o para outro lugar qualquer, quem sabe até para a rua? Terá de vir outro Nanas para o João?
Estas e outras respostas já na próxima terça-feira! Não percam! ^.^
 

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