terça-feira, 8 de outubro de 2013

As crónicas de um Nanas (Capítulo 5)

Capítulo 5

O Duks sempre foi um gato de ideias fixas! Quando quer algo, faz de tudo para a ter, nem que isso lhe custe umas boas sapatadas. Está-se mesmo a ver que as sapatadas são mais de pentear o pêlo, que o tirar, mas mesmo assim, quando lá cai um tabefe à moda da casa, vem sempre acompanhado de um ralhete, e isso sim, dói!...Dói na alma de quem o dá, porque o Duks já descobriu a expressão "Cara de pobrezinho", que é aquela em que os gatinhos parecem ser os seres mais infelizes do mundo! Os olhinhos dilatam e os bigodes descaem! Uns verdadeiros infelizes!
Mas agora a Mamã chamava-o com aquele timbre "aí vem bronca" que ele tão bem conhecia e ele lembrou-se da sua "nova almofada"!
Sem pensar duas vezes, esgueirou-se para a varanda do quarto deixando para trás um Nanas com o coração parado de susto.
A Mamã entrou no quarto. Olhou para a cesta do Duks e deixou escapar: "Um dia Duks ainda vais ser ementa no chinês"!
Aproximou-se e pegou no Nanas. Cheirava a gato e estava coberto de pêlo! "Ao menos não és alérgico a pêlo" - disse a Mamã enquanto o segurava por uma das pontas. Bem, agora a única coisa a fazer era dar-lhe um banho e esperar que o João tivesse o mesmo interesse por ele que tivera no dia anterior! Este Nanas parecia cada vez mais destinado a sair pela porta da frente da casa! ou então, a ficar para sempre! Depois de tudo ...
A Mamã trouxe-o para baixo. O Nanas precisava de uma valente esfregadela com direito a banho de emersão.
...
Estava um dia de sol e a temperatura convidava a um passeio no parque. Depois de uma manhã sozinho no infantário, o João precisava de ter a Mamã só para ele, e a Mamã também precisava recarregar as baterias dos miminhos. Afinal era a primeira vez que ela ficava tanto tempo sem o João desde que ele nascera! A Mamã também estava a precisar de um Nanas!
O Nanas pendurado pelas suas pontas na corda de secar, já estava limpo e seco.
A Mamã preparava o João para saírem apesar de ele continuar com a mesma cara que do dia anterior - nem um único vestígio de sorriso. "Devem ser muitas mudanças para ele", pensou a Mamã. E assim que estava com um pé fora de casa, lembrou-se do Nanas. Este passeio seria a inauguração de um caminho longo, ou não, do João com o Nanas!
Voltou para trás para o trazer. Tirou-o da corda, olhou para ele e disse: "Estás pronto? Vais precisar de um milagre para o João te achar alguma graça!"
E levou-o cheia de fé no desastre que se seguiria.
"João, olha o que a Mamã tem aqui para ti". Trazia-o atrás das costas. Podia ser que o suspense criasse algum efeito positivo no reencontro dos dois. O João olhava para a Mamã com os olhos arregalados na expectativa do que se seguiria.
A Mamã aproximou-se do João, baixou-se até ficar ao nível dos seus olhinhos e mostrou-lhe o Nanas.
Os olhos do João abriram-se de alegria e excitação! Esticou as mãozinhas e agarrou-o com toda a sua força.
A Mamã nem queria acreditar! Não é que este Nanas conseguira o impossível? O João estava a sorrir novamente e os seus olhinhos brilhavam como no dia anterior. É impossível. Não podia acreditar!
Com o Nanas apertado contra o peito, lá saíram os três rumo ao parque infantil que ficava a pouca distância de casa.
Foi uma tarde verdadeiramente bem passada. O João feliz brincava com o Nanas, aventurava-se à descoberta de novos caminhos e novas brincadeiras e sempre que o coração pedia um colinho, lá corria ele para os braços da Mamã.
Quando a noite chegou, o João adormeceu mesmo antes de chegar ao quarto. Tinha sido um dia em cheio. Até o Nanas não aguentou de tanta alegria que sentia no seu coraçãozinho de algodão, que acabara por adormecer. 
Já no quarto, a Mamã olhava para os dois que pareciam ter estampado nos rostos o selo da felicidade.
Quase que chegava a sentir agora uma pontinha de remorsos acerca do que pensara do Nanas. Ele proporcionara ao João tanta alegria! Talvez o João conseguisse ver para além do que o exterior do Nanas mostrava. Os pequeninos por vezes vêem melhor que os grandes!
Alguns dias mais tarde...
No orfanato a muitos quilómetros de distância do quarto do João, os Nanas acabavam de chegar. Os voluntários que dirigiam o orfanato  rodearam a enorme caixa remendada com fita adesiva e começaram a abri-la. Sentiam-se entusiasmados perante a oferta que a Mon Rève lhes enviara. Muitos destes voluntários já conheciam a Mon Rève. Muitos até possuíam um Nanas proveniente desta "fábrica de sonhos". Estavam desejosos de ver os Nanas que lhes tinham sido enviados para as suas crianças. Para eles cada criança do orfanato fazia parte das suas vidas. Eles mantinham-se neste país em guerra na tentativa, muitas vezes frustrada, de dar o melhor possível a cada um dos seus pequenotes. Cada um deles estava sozinho no mundo se não fosse a acção destes voluntários. A guerra tinha-lhes tirado tudo o que possuíam: a família, o lar, os amigos ... o direito a serem crianças!
Por isso estes Nanas tinham a missão especial de dar um sorriso a cada delas.

Abriram a caixa e lá estavam os Nanas! Nanas especiais para meninos especiais. Os voluntários estavam radiantes. Começaram a tirá-los um a um da caixa. Todos eram iguais, com excepção da cor da lua crescente que possuíam sobre um dos olhinhos.
A cor diferente de cada meia-lua dava-lhes a identidade. Assim cada menino ou menina saberia qual era o seu. Facilitaria na hora dos banhos dos Nanas...
Quando estavam a chegar ao fundo da caixa, eis-me que lhes aparece o Nanas do João.

Que irá acontecer ao nosso pequeno Nanas? Será ele entregue a algum menino? Ou será tão diferente que ficará guardado? Não percam o próximo capítulo!

1 comentário:

  1. Querida madrinha,

    já disse que adoro as tuas crónicas, não já? da mesma forma que adoro o meu Nanas que vai comigo todos os dias para a escolinha. Vou contar-te um segredo (mas não contas a ninguém) ... quando fico com o ar que o Duckx fica quando a mamã lhe ralha, ela diz que fico muito "guzo" (acho que esta expressão é oriunda do mesmo dialeto que os meus papás têm entre eles e que vou entender provavelmente nunca). Mas há alguns dias em que só quero mesmo o colinho da mamã "no matter what" e nesses dias, a mamã diz que estou "muzo" ... não queiras entender, eu já desisti ...
    Any way ... nesses dias tão únicos em que me sinto mesmo muito muzo, o meu Nanas não vai apenas na tartaruguinha, vai mesmo abraçado a mim enquanto a mamã nos empurra pelo passeio que damos todas as manhãs até à escolinha.
    E lá chegados e a custo guardo-o de novo na tartaruguinha porque partilhar brinquedos eu já estou a aprender, mas o Nanas não é negociável com NINGUÉM!!!! Por isso, lá fica quentinho a tomar conta da minha "chucharana" (yeh I know ...) até que chegue a hora da sesta e nos possamos abraçar de novo até adormecermos.

    Mil beijos para ti e para o padrinho
    (o Nanas manda também uns quantos)
    João

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